“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca num nível mais elevado do que o de qualquer político.” Charlie Chaplin

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ela vestia branco e caminhava com uma balança...

Por Gilberto Junior

          Meia noite e um, iniciava mais um ano, 2007 chegava. Família feliz, desejos e saudações se repetiam de abraço em abraço. “Filho te desejo um 2007 cheio de amor, saúde, felicidade e muita grana” indagava meu pai, não só a mim, mas a todos familiares presentes na sala de comemoração. E lá sei ia mais uma garrafa de champanhe. “Só mais uma taça!” pedia o senhor do tempo.
          Enquanto todos bebiam o suco da sorte, avistei, através da janela da sala que dava para rua, uma amiga, corri para a porta da casa e fui cumprimentá-la. O afeto alegre se esbaldava pela calçada e, entre um pergunta e resposta, a boca dela a expressão “Estou fechada para balanço”. Logo me despedi desejando um feliz ano novo e voltei ao meu posto junto aos meus afins.
          Três horas da madrugada e a confissão fechada para balanço, insinuava os meus pensamentos mais sediciosos. As primeiras badaladas do ano me deixavam inquieto com o peso da balança. Com uma taça cheia de nada em mãos, lá estava à solidão do meu instinto para decifrar a demência da criatura.
          A mulher vestia branco, uma sandália prata, pele bronzeada e uma leve maquiagem. Seus olhos refletiam a alegria do princípio e sua boca expeliu a frase que coloca a tona o sentimento de falta de liberdade da pessoa. Toda pressão que os erros do passado exercem sobre a consciência, a senhora moderna deixou nas entrelinhas a embriaguez do espírito.
          Perguntas começam a se formar entre um cálice e outro: por que uma pessoa se fecha para balanço? Será que ela já viveu o necessário para colocar na balança todos os anos de sua vida? Ela errou tanto assim no ano passado? Será que a cada nova etapa a balança é usada? Por que alguém faria um balanço? Pra ver se deu lucro?
          As perguntas surgiam. As conclusões beiravam o inconsciente. Essa mulher, certamente estaria colocando em sua balança os prováveis não que obteve em 2006, por exemplo: o show que não foi; a roupa que não comprou, por que não tinha dinheiro; à noite que não riu por não ter gostado da piada; os amigos que não olhou; a decisão que não tomou e que mudaria sua vida; o sim que deixou de dar, e dois minutos depois se arrependeu; o pum que deu quando não devia; a caloria que comeu a mais... E outros tantos “não” que cometeu.
          Colocar na balança trezentos e sessenta e cinco dias, quando na verdade deveria continuar vivendo. Lógico, ela também vai inserir todos os “sim”, porém, o que mais vai marcar será o não - é do ser humano ter uma quedinha pelo sofrimento, se lembrar dos momentos falhos da vida.
  &
          Fazer um balanço de um pequeno espaço de tempo não se tira proveito algum. É preciso viver o agora, viver o segundo presente, o minuto passado já é se foi há sessenta segundos e não volta mais. Sentar num balanço até vá lá, o vento é bom, mas fazer balanço logo no iníco do ano equivale a um trote no meio da madrugada.
          Para que serve um balanço? Pra não cometer os mesmos erros? Quais erros? O erro de se apaixonar pela pessoa errada? Não escolhemos por quem nos apaixonarmos. Ou não errar novamente ao comprar ou não tal roupa? Tudo depende do bolso. Na verdade nessa vida não se faz balaço, todo varia com o ápice.
          A loirinha moderna vai pensar, balancear e cometer os mesmos equívocos de antes: comprar o que não tinha; tomar quando não podia; rir onde não devia, chorar por ter quebrado a unha e vai fazer o maior barraco; também vai beijar um cara quando não deveria ter beijado numa festa ridícula que não gostaria ter ido, mas foi.
          Fechado para balaço é uma filosofia fútil. O brasileiro vive em média 72 anos. Pra quem deseja fazer um pouco de tudo, essa sucessão de anos passa num piscar de olhos. Levando em conta que se dorme oito horas por dia e que começamos a estudar por volta dos sete anos e paramos lá pelos 30, cada milésimo de segundo deve ser degustado como vinho. Passamos a puberdade com medo dos pelos. Na adolescência, além das espinhas entramos na crise existencial. Quando adulto, nos preocupamos com o trabalho e as contas a pagar, e aí, o que sobra?
          Fechar para balanço seria um propósito sem causa, uma coisa esdrúxula. Do tipo rebelde mimado. Sinceramente, a moça loira de maquiagem leve, que vestia branco com sandálias prateadas, deixou naquela noite, sua sombra se molhar na chuva dos acontecimentos banais da vida.
          Que a moça de olhos pintados, pintura facial modesta, brilhante, sorriso meigo e transparente use o instrumento determinante relativo ao peso dos corpos quando estiver dando o último suspiro, após ter usado todo intervalo de tempo possível da vida. Mas que não passe de alguns segundos, pois os mesmos lábios que na virada do ano equilibraram o passado, farão do presente um ato honroso se não usar, ou souber usar a balança.

5 comentários:

Anônimo disse...

Simplesmente sem comentários neh Giu...tu sabe que é o cara ahhaahha
Muito bom o texto me fez refletir sobre muitas coisa!
Parabéns! Tá lindo teu blog, vou até divulgar eu acho ehhhehehe

Bjao cachinho

Anônimo disse...

Giu...
Quem seria essa moça de branco ? Quem sabe não seria uma mensageira fazendo um pressagio
pelo terrivel ano de 2007 ? Este foi escrito no ano passado quando vi o titulo,
Mami
Que seja melhor este 2008

Anônimo disse...

até que enfim te vejo usando a inteligência... tava demorando, tava demorando!! nunca duvidei q chegaria a hora!
um dia, compro o teu livro irmão!!
abraço
pacheco

Anônimo disse...

q perfeitO o texto !!

mtO bom pra começar 2008

ameeeeii..

B*

Anônimo disse...

Oi Giu! Adorei seus textos, por isso copiei uma trecho deste e colei no meu orkut. Teria algum problema? Obrigada e parabéns