“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca num nível mais elevado do que o de qualquer político.” Charlie Chaplin

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ela vestia branco e caminhava com uma balança...

Por Gilberto Junior

          Meia noite e um, iniciava mais um ano, 2007 chegava. Família feliz, desejos e saudações se repetiam de abraço em abraço. “Filho te desejo um 2007 cheio de amor, saúde, felicidade e muita grana” indagava meu pai, não só a mim, mas a todos familiares presentes na sala de comemoração. E lá sei ia mais uma garrafa de champanhe. “Só mais uma taça!” pedia o senhor do tempo.
          Enquanto todos bebiam o suco da sorte, avistei, através da janela da sala que dava para rua, uma amiga, corri para a porta da casa e fui cumprimentá-la. O afeto alegre se esbaldava pela calçada e, entre um pergunta e resposta, a boca dela a expressão “Estou fechada para balanço”. Logo me despedi desejando um feliz ano novo e voltei ao meu posto junto aos meus afins.
          Três horas da madrugada e a confissão fechada para balanço, insinuava os meus pensamentos mais sediciosos. As primeiras badaladas do ano me deixavam inquieto com o peso da balança. Com uma taça cheia de nada em mãos, lá estava à solidão do meu instinto para decifrar a demência da criatura.
          A mulher vestia branco, uma sandália prata, pele bronzeada e uma leve maquiagem. Seus olhos refletiam a alegria do princípio e sua boca expeliu a frase que coloca a tona o sentimento de falta de liberdade da pessoa. Toda pressão que os erros do passado exercem sobre a consciência, a senhora moderna deixou nas entrelinhas a embriaguez do espírito.
          Perguntas começam a se formar entre um cálice e outro: por que uma pessoa se fecha para balanço? Será que ela já viveu o necessário para colocar na balança todos os anos de sua vida? Ela errou tanto assim no ano passado? Será que a cada nova etapa a balança é usada? Por que alguém faria um balanço? Pra ver se deu lucro?
          As perguntas surgiam. As conclusões beiravam o inconsciente. Essa mulher, certamente estaria colocando em sua balança os prováveis não que obteve em 2006, por exemplo: o show que não foi; a roupa que não comprou, por que não tinha dinheiro; à noite que não riu por não ter gostado da piada; os amigos que não olhou; a decisão que não tomou e que mudaria sua vida; o sim que deixou de dar, e dois minutos depois se arrependeu; o pum que deu quando não devia; a caloria que comeu a mais... E outros tantos “não” que cometeu.
          Colocar na balança trezentos e sessenta e cinco dias, quando na verdade deveria continuar vivendo. Lógico, ela também vai inserir todos os “sim”, porém, o que mais vai marcar será o não - é do ser humano ter uma quedinha pelo sofrimento, se lembrar dos momentos falhos da vida.
  &
          Fazer um balanço de um pequeno espaço de tempo não se tira proveito algum. É preciso viver o agora, viver o segundo presente, o minuto passado já é se foi há sessenta segundos e não volta mais. Sentar num balanço até vá lá, o vento é bom, mas fazer balanço logo no iníco do ano equivale a um trote no meio da madrugada.
          Para que serve um balanço? Pra não cometer os mesmos erros? Quais erros? O erro de se apaixonar pela pessoa errada? Não escolhemos por quem nos apaixonarmos. Ou não errar novamente ao comprar ou não tal roupa? Tudo depende do bolso. Na verdade nessa vida não se faz balaço, todo varia com o ápice.
          A loirinha moderna vai pensar, balancear e cometer os mesmos equívocos de antes: comprar o que não tinha; tomar quando não podia; rir onde não devia, chorar por ter quebrado a unha e vai fazer o maior barraco; também vai beijar um cara quando não deveria ter beijado numa festa ridícula que não gostaria ter ido, mas foi.
          Fechado para balaço é uma filosofia fútil. O brasileiro vive em média 72 anos. Pra quem deseja fazer um pouco de tudo, essa sucessão de anos passa num piscar de olhos. Levando em conta que se dorme oito horas por dia e que começamos a estudar por volta dos sete anos e paramos lá pelos 30, cada milésimo de segundo deve ser degustado como vinho. Passamos a puberdade com medo dos pelos. Na adolescência, além das espinhas entramos na crise existencial. Quando adulto, nos preocupamos com o trabalho e as contas a pagar, e aí, o que sobra?
          Fechar para balanço seria um propósito sem causa, uma coisa esdrúxula. Do tipo rebelde mimado. Sinceramente, a moça loira de maquiagem leve, que vestia branco com sandálias prateadas, deixou naquela noite, sua sombra se molhar na chuva dos acontecimentos banais da vida.
          Que a moça de olhos pintados, pintura facial modesta, brilhante, sorriso meigo e transparente use o instrumento determinante relativo ao peso dos corpos quando estiver dando o último suspiro, após ter usado todo intervalo de tempo possível da vida. Mas que não passe de alguns segundos, pois os mesmos lábios que na virada do ano equilibraram o passado, farão do presente um ato honroso se não usar, ou souber usar a balança.

sábado, 29 de dezembro de 2007

A cisma da apreciação pela negatividade

Por: Gilberto Junior

“Vai existir um dia em que todos unir-se-ão para o bem comum – esse dia não existe”. Até que o povo, bobos da corte, defender o partidarismo, nunca vamos ser uma cidade decente. Não sei como uma cidade pequena consegue fazer transbordar tanta birra sem fundamento.


          Sim, eu gosto de falar, criticar. Mas também sei fazer um elogio quando merecido. E dói. Dói a minha intrínseca alma com as pessoas que agem de má fé. São esses seres desprezíveis que colocam a nossa cidade no calcanhar do mundo.
          Quinta-feira, 20, noite de calor agradável, cinco dias para o tão esperado natal. Eu estava no palco do centro de eventos de Campinas do Sul, apresentando o primeiro dia da semana natalina. Aproximadamente 500 pessoas presentes, apreciando os números artísticos que tomavam conta do tablado depois das 22h. A promoção era do Núcleo Cultural com apoio da Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores.
          Entre uma apresentação e outra, fazia comentários, lia frases natalinas, interagia com a platéia, enfim, descontraia o público até que o grupo chamado se colocasse na posição de ataque. Num desses comentários fiz um elogio a primeira dama, Rosangela Montepó e sua equipe de voluntários pela belíssima iniciativa de usar como enfeite natalino, reciclagem de lixo. Que sinceramente eu tiro o meu chapéu, me curvo diante de tão nobre atitude. Com todo o aviso que a mídia e instituições de ensino fazem sobre o aquecimento global e, toda a preocupação dos mais conscientes sobre esse fato, a reciclagem do lixo como decoração, tira de minhas mãos, aplausos.
          O que mais me chocou foi quando terminou as apresentações, inclusive a minha. Fui comprar uma água e, fiquei conversando com algumas pessoas. Após um tempo de bate papo me despedi do grupo e me coloquei em direção a minha casa, a pé, passo a passo caminhava lentamente, sem pressa. Na esquina entre a Rua Tiradentes e a Avenida Mauricio Cardoso, um senhor grisalho, de costume conservador se aproximou e bradou: “Giu, parabéns pela apresentação, mas como que tu vai parabenizar a primeira dama? Logo tu que escreve contra eles”. Olhei para este senhor e respondi que não tenho nada contra ninguém, só acho que as coisas precisam ser levadas mais a sério, e que o descompromisso geral com as coisas me coloca numa situação de indignação. E novamente o morador questiona: “mas dar os parabéns a eles?”. Olhei para seus olhos e respondi que não estou do lado de ninguém, de nenhum partido político, e que assim como as críticas são necessárias, os elogios também, independente de qual ideologia a pessoa que faz boas ou más ações, pertence. Falamos mais um pouco e cada um seguiu seu rumo.
          São pensamentos como esses que não deixam a nossa pequena cidade tomar proporções de maior expressividade. Como um povoado pode aviltar-se se o seu povo tem como princípio não acreditar no próprio potencial? O orgasmo de algumas pessoas de Campinas do Sul é assistir de camarote o erro alheio.
          Brilham as luzes natalinas, cintilam os olhos de nossas crianças ao passarem por esses raios luminosos. O encanto do velho, que aborda com suas renas na cidade de aproximadamente seis mil habitantes, termina, quando de seu saco de presentes uma aura de desilusão, espírito de porco e má índole saltam de sua sacola avermelhada e vão direto ao estômago de alguns cidadãos que, sem mastigar, cospem esta malvadeza para fora, atingido a todos com o mau hálito. Está proibido gabar.
          Um partidarismo nojento que não leva a nada. Seja de qualquer sigla, de qualquer crença partidária, a ementa de todos é linda, a prática - sórdida. Pior não é isso, a arte da política é necessária, ridículo são os integrantes das alas que contaminam o todo com pensamentos imundos. Vem dizer que não é uma bela iniciativa a reciclagem de lixo?
          Essas pessoas que se revelam contra as coisas boas que acontecem por aqui, poderiam usar como modelo os enfeites desse ano, para reciclar as próprias idéias, atitudes, vocabulário, intelecto e etc. Podem, também, usar a reciclagem para rever seus conceitos e não virar, no sentindo personalidade, mais lixo do que já são.



          Precisa de legenda?

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Quando as coisas dão certo dizemos "Graças a Deus". Quando elas dão errado dizemos "A culpa é do presidente."

Por: Wagner Pacheco


          O braseiro é grande mesmo. Eu puxo a brasa pra cá e você puxa pra lá, quanto mais brasa pra mim melhor... Coisas humanamente impossíveis de prever acabam tendo como pai Deus ou o presidente, como a última grande seca no Rio Grande do Sul e a queda do 3054 em São Paulo, neste meio tempo muita coisa boa aconteceu, Graças a Deus. A vinda da BSBios, do Cefet e da Italac pra Passo Fundo é a prova de que Deus está querendo o desenvolvimento do nosso município, em compensação o presidente não percebe o aumento da violência por aqui, nem o crescimento da cracolândia.
          Percebo a preocupação das igrejas em construir uma sociedade mais justa quando cobra o dízimo que, afinal, é a maior prova de fé e amor ao próximo e também quando perdoa os meus pecados. É, mas não dá pra comemorar muito porque a situação tá ruim pra quem precisa andar de ônibus na nossa cidade, pois, a passagem está muito cara e adivinha de quem é a culpa? Mas Graças a Deus, na vida tudo é passageiro e no domingo a banda de busão sai por um pila.
          Dizem que a fome se combate com agricultura forte, mas eu li que a publicidade é a mola propulsora da economia do país e que o jornalismo constrói cidadania mesmo quando se tira conclusões precipitadas, como já aconteceu em muitos casos. Me refiro a tortura constante em que os jornalistas submetem os familiares das vítimas do avião da TAM derrubado cruelmente pelo presidente Lula no dia 17 de julho do presente ano. Mas Graças a Deus entre as mais de 180 vítimas nem Daltro nem eu estávamos naquele Air Bus.


*Wagner Pacheco é acadêmico do VIII nível de Publicidade e Propaganda - UPF;
Diretor Acadêmico do Diretorio Carlos Gomes da Faculdade de Artes e Comunicação;
Secretário de Comunicação da União da Juventude Socialista (UJS);
Militante do PC do B

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Nunca acreditei muito em Papai Noel

O texto que segue é uma crônica do sempre crítico Arnaldo Jabour. Eu estva escrevendo uma sobre o natal, quando me deparei com este espírito natalino. Parei para pensar se deveria ou não postar esta crônica. Pensei mais um pouco e... Aí está o natal por Jabour.

Por: Arnaldo Jabour


"Natal, Natal - bimbalham os sinos!". Sempre tive vontade de começar um artigo assim. O Rubem Braga dizia que há certas frases que demitem jornalistas. Essa é uma.
          
O Natal me deixa vagamente abobalhado. A própria figura do Papai Noel me dá angústia. Eu acho que isso se deve ao hábito que meu pai cultivava de forjar uma carta que Papai Noel me enviava junto com os presentes. Na carta apócrifa, Papai Noel me repreendia pelo mau comportamento: "Não bata em sua irmãzinha, obedeça sua babá, não faça má-criações para sua mãe!..." Os presentes vinham com um gosto de castigo que me dói até hoje quando ouço o "Ho ho ho!" do bom velhinho. Papai Noel gostava de todo mundo, menos de mim; surgiu em minha vida como um "superego".
          
Talvez por isso, fui o primeiro da minha "gang" de nenéns do Rocha a desmistificar a figura do barbudinho. "Papai Noel não existe...!"– foi minha declaração revolucionária. Eu bradava a meus amiguinhos, que olhavam desconfiados para meu "ateísmo" natalino. "Existe sim!" – protestavam – "ele me deu o velocípede que eu pedi..."
          
"Ah, é?" – eu replicava, subversivo – "fica acordado esse ano para ver se não é o teu pai mesmo que finge que é Papai Noel e põe os presentes lá na árvore!..."
Meus amiguinhos lutavam contra essa desilusão, mais ou menos como hoje os velhos comunas não desistem do socialismo e vivem acusando o Lula de ter ficado "neo-liberal
          
Um outro trauma aconteceu em um Natal remoto, quando ganhei uma bicicletinha bem legal, mas que veio sem o "quadro", sem a barra de ferro que definia se a bicicleta era para homem ou para mulher. O "quadro", fálico, denotava bicicleta de homem; sem "quadro", era para moças. Falei: "Essa é de mulher..." "Mas, a bicicleta é para você, meu filho...Comprei sem "quadro" para você não se machucar, se cair..." Minha mãe estava cuidando de minha castração, pois eu poderia machucar meus pobres ovinhos na barra de ferro...Fiquei apavorado de desfilar nas ruas com "bicicleta de mulher". Que diriam os vagabundos mirins que assolavam as ruas do Rocha, se me vissem rodando nas rodinhas femininas? Claro que berrariam: “Viado! Viado!", - supremo xingamento da época, terrível pecha que poderia destruir a reputação de qualquer um de nós. "Viado" (e não "veado", por favor) tinha uma sombra de ambigüidade, um desequilíbrio que me assustava. Viado não era nem homem, nem mulher; "viado" era o mistério. Daí que nunca saí na rua com aquela máquina que selaria minha identidade em crise. Papai Noel me dava culpa e a bicicleta ameaçava a minha sexualidade. Por isso, creio, o fervor subversivo contra a festa magna da cristandade que atingia, de tabela, meus problemas com o pai real.
          "...
Nessa época, em pleno delírio nacionalista do Getulio no fim do Estado Novo, lançaram uma campanha para substituir a figura “imperialista” de Papai Noel por outro símbolo mais "coisas nossas". Inventaram uma figura tropical que nunca colou: o “Vovô Índio”, um velho semi-nu com uma peninha na cabeça, que traria presentes para os “curumins”. Foi um fracasso total, numa época em que o cinema americano alardeava o Bing Crosby cantando "White Christmas" sem parar. Tentei flagrar meu pai colocando os presentes no corredor longo e triste (por que o corredor era triste?), onde uma Santa Terezinha brilhava sozinha numa pequena peanha, mas nunca consegui. Recorri a meu avô, conselheiro e aliado, e ele me confirmou, de mãos dadas, me levando ao Jóquei Clube: "Isso é pra criancinha mesmo... Você já tem seis anos..."
A partir daí, eu não parei mais. Fui além. Entrei de sola na lenda da "cegonha" e do "bebê que o papai do céu mandou..." Meus amigos me olhavam em pânico, quando eu lhes tirava a inocência: "Vocês pensam o quê? A mãe de vocês ficam nuas e o pai de vocês bota uma coisa dentro da barriga dela pelo umbigo e, aí, vocês nascem..."           
Essa tese me valeu várias brigas de rua. "Minha mãe não, cara! Minha mãe é direita..." E tome porrada no meio fio, rolando no chão. Depois, fui partindo para religião e duvidas metafísicas sobre Deus, já maior, atazanando os padres do colégio: "Se Deus é bom, por que ele cria um sujeito que ele sabe que irá para o inferno quando morrer?" Nenhum padre me respondeu essa pergunta até hoje, mesmo falando em "livre arbítrio" etc.
          
Mas, a verdade é que eu nunca fui feliz no Natal. Lembro-me que, nas ceias, ficavam visíveis as frágeis ligações familiares, pálidas amizades entre primos e tios, um certo tédio constrangido depois dos presentes abertos, dissensões e antipatias adivinhadas em abraços frios. Eu olhava aquela família "viajando através do tempo", como um cortejo trôpego para um futuro baldio, eu via a solidão do primo insignificante, do tio fracassado, da tia maluca e muito pintada, dos avós já tristes e ausentes, eu via que, a cada ano, as festas ficavam mais ralas, o eterno presunto caramelado e o peru com apito ficavam mais sozinhos na mesa, os presentes mais baratos e nossa fragilidade mais clara. O destino das famílias é evidente no Natal. Os pobres ficam mais tristes com a dor do pouco que podem dar aos filhinhos e os ricos mais obstinados em provar a si mesmos que serão felizes a qualquer preço. A obrigação da felicidade me enlouquecia. Parentes que eu nunca via me abraçavam com uma forçada ternura, molhada por vinho e uísques misturados, terminando tudo naquela tristíssima saída na madrugada, com crianças chorando ou dormindo no colo, presentes carregados para os carros, berros de "feliz natal" nas calçadas. Por isso, só me resta o lugar-comum do início: "Natal, Natal – bimbalham os sinos!"...

sábado, 22 de dezembro de 2007

Lembranças do Intercom

Por: Gilberto Junior

     "Estórias como essas à gente vive apenas uma vez. E vive somente em época de estudante universitário".


          O telefone do Diretório acadêmico não parava de tocar um instante. A caixa de e-mail parecia gritar em nossos ouvidos. A informação a ser passada era sempre a mesma, com as básicas palavras de sempre: “Oi, Fulano! Tudo bem? Temos dois alojamentos para oferecer, um localizado em tal endereço e o outro na rua... ok, aguardamos resposta, obrigado”.
          Se os alojamentos deram dor de cabeça? Não. A não ser mau cheiro que faziam nossas narinas arder, quando tivemos que ir limpar os banheiros de um dos lugares que a galera posteriormente iria ficar. Mas os banheiros, graças ao limpa vidros usado no lugar de desinfetante, ficaram cheirosos.
          Enquanto deste lado do Rio Grande nos organizávamos enlouquecidos para acomodar o pessoal que chegava a partir de quarta-feira a noite, os estudantes dos ônibus que saiam de São Leopoldo, Santa Maria, Porto Alegre e algumas cidades do estado de Santa Catarina (sim, os barrigas-verde vieram), pegavam a estrada apreensivos, pois não conheciam o lugar onde passariam as noites do Intercom. E por aí foi, correria e risos, muitos risos. Ah, quase ia esquecendo, nós compramos três chuveiros, novos por sinal, pois banho gelado no inverno é pra desconfigurar qualquer guarda que nos pare numa blits nos cafundó desse Passo Fundo.
          Voltando a história dos alojados. Sim, então chegava a tropa. Tinha de tudo um pouco, os chatos, os legais, os interessantes, as simpáticas, os intelectuais e os sequelados. Mas foi nesse estado de euforia festiva que se passou o intercom, quanto ao conteúdo educativo a ser passado nos dormitórios, cantaram e dançaram pagode. Aham, pagode.
          A fase do "pagodinho" se passou de sexta para sábado, no alojamento Tiradentes, antes de enfrentarmos a longa fila do 540 PUB. Digo, foi na fila que a troca de sotaques gaúchos se intensificou.
          Ah sim, o pagode. Era segundo dia de intercom, o relógio do celular marcava 21 horas e iríamos para os alojamentos. Foi aí, justamente nesse horário, que me partiu o coração: eu não pude ir confraternizar as piadas contadas naquela sexta-feira gelada, porém risonha. Tive que ir ao banco, tirar uns 10 reais para passar a noite (pensa a situação...) O ingresso eu tinha, mais dez pila no bolso, eu era um rei. A cerveja custava quatro reais; bom, dava pra tomar duas e sobrava dois, ainda. E seguia a noite.
          O banho estava quente. Ta, as pessoas, em um dos abrigos, dormiam com o colchão no chão, porém era de graça. Outra coisa, esse intercom foi o único que disponibilizou alojamento grátis. E de graça, meu filho... Só não vale virar puto e nem dedo no olho.
          Resumindo tudo, se tivéssemos que fazer isso novamente, teríamos o maior prazer em repetir esse momento. Passaríamos as noites acordados, em pé, esperando os estudantes na rodoviária, ou limpando banheiro de alojamento (essa parte não foi tão higiênica não), recepcionando o pessoal; indicando uma pizzaria no lugar de galeteria; atuando até como guia turístico (sim, já da pra se perder em Passo Fundo); mecânico (nem que seja para abrir a porta de um carro com a chave dentro, como para dar carga em uma bateria); também atuamos como piadistas, mas só nas horas vagas (teve hora vaga?).
          E o intercom foi isso, um pouco mais, bem mais que isso. Fim.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Bienal da Une: um rio chamado ilusão



Por: Gilberto Junior


         “União Nacional dos Estudantes luta contra norte-americanos mas usa jeans, Adidas e se duvidar come no Mc Donalds”.


         Foi bem coisa de estudante. Em cima da hora resolvemos ir para a bienal da Une. Mochila nas costas, carona com uma galera de Ijuí, pouca grana no bolso e 26 horas de estrada rumo ao estado fluminense.
         A quinta bienal de arte, cultura e ciências da União Nacional dos Estudantes aconteceu entre os dias 27 de janeiro a dois de fevereiro desse ano. O ponto marcante do evento foi a Culturata, uma caminhada até a antiga sede da Une que foi tomada pelos militares em 1964.
         Mais de 11 mil estudantes de todo o país se manifestando, articulando, politizando de uma forma pervertida, muitos não sabiam a bandeira que estavam levantando naquele momento de euforia. Sim, o jovem brasileiro é manipulável.
         O que mais se vê em eventos como esse é gente com Che Guevara estampado no peito, gritando contra o imperialismo norte-americano e contra o neoliberalismo. Todos em uma só voz, exaltados, clamam pela União Nacional dos Estudantes. Uma grande maioria, num sentimento de democracia, aposta na igualdade dos povos. Isso na verdade é ingênuo.
         Não se pode sair por aí dizendo que a bienal foi só tragédia. Houve momentos de felicidade. A visita ao Cristo Redentor foi um deles. Copacabana, Ipanema, Barra da Tijuca, por exemplo, influenciaram na visão política, democrática e igualitária inexistente. O Rio de Janeiro continua lindo. Ainda lembro quando era pequeno e queria mudar o mundo tomando leite e Nescau. Mas a experiência que tive com a proposta imposta pela Une, concluí que com essa farda não se muda nada.
         As contradições são visíveis e nada entendíveis. A imagem de um jovem que luta contra o imperialismo norte-americano que usa jeans e Adidas, me faz pensar o quanto incoerente é esse movimento. Uma bienal que prega mudanças com políticas diferentes, só que no palco passam cenas anacrônicas e de pensar utópico.
         De fato, o jovem pede mudanças e até tenta mudar a situação catastrófica do país, mas é levado e manipulado pela sede de poder. A idéia de que a Une, maior entidade estudantil do país, diz usar uma nova forma de política, não foi presenciada na bienal, pelo menos foi o que eu vi, senti e escutei.
         "Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra". Falou um dia Che Guevara. Será que Che está sendo bem entendido por seus adeptos? Não. Guevara lutava por justiça, igualdade e era generoso. Hoje se levanta uma bandeira contra a fome, mas não para acalmar o estômago, e sim para se esconder atrás do mastro até se alcançar o trono.
         Numa tarde da bienal, sentei num bar e pedi uma água. O calor não me abatia tanto quanto os painéis de bobagens que se passava na Lapa. Sentou ao meu lado um estudante, que faz parte dos movimentos estudantis há muito tempo. Comentei com ele a minha frustração com a Une e com a bienal, cogitei estar impaciente com tanto discurso pronto. Respondeu ele: “É que todos aprendem com os mais velhos. Os caras vêem que sem poder não adianta nada e acabam seguindo a mesma linha de pensamento dos atuais políticos”. Com essa resposta não precisei de mais nada. A luta é longa e vaga. Ele usava jeans, camiseta branca e all star.
         O que adianta uma bienal revelar sua indignação com os EUA quando o Brasil está virado numa bagunça. Não precisamos atravessar o Atlântico pra ver desgraça. Na nossa pátria, milhões de pessoas morrem de fome todo ano. Uma guerra é iniciada a cada segundo em diferentes cantos do país. A realidade é que o jovem age com demasiado entusiasmo e esquece de limpar o próprio nariz.
         Se antigamente a Une influenciou na mudança da terra tupiniquim, atualmente, num olhar profundo, é manipulada pelo governo e leva consigo uma grande parte de adolescentes possuídos pela sedução do espírito revolucionário. Acredito que precisamos de mais objetividade e menos utopias. De projetos o mundo está cheio. Pra mim, a bienal da UNE foi nua, vazia e imparcial. A bienal pregou o verde e amarelo, mas em certas atitudes vestiu azul e vermelho.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

E dá-se o começo...

Por: Gilberto Junior

Salve, salve... Está no ar o Blog Malabarismo sem Maquiagem. Vamos aos fatos, agora formado Jornalista, estava a pensar uma forma de publicar minhas idéias, textos em algum lugar onde consiga falar sem maquiagem, ou seja, sem seguir regras jornalísticas e colocar luvas nas mãos para poder publicar textos, artigos, crônicas e gêneros afins.
Todo mundo deve estar se perguntado o porquê de Malabarismo sem Maquiagem. Todo mundo sabe o quanto é difícil conseguir tornar público idéias que possam comprometer uma entidade, o nome de alguém devido a sua posição social, empresa, instituição mesmo estando atuando dentro de qualquer meio de comunicação. Agora imagina como é difícil conseguir fazer com que algumas matérias jornalísticas tomem proporções maiores além da pasta de documentos em que fica guardada no computador, é um malabarismo fazer com que alguém as leia. Já Sem Maquiagem vem da família da palavra "sem censura". Parece que 1964 ainda está entre nós, pois algumas idéias ainda não podem ser faladas e/ou escritas que a baixaria toma conta do cenário. Enfim, o título Malabarismo sem Maquiagem foi criado através da dificuldade que se encontra pra firmar uma matéria, pensamento, conceito, opinião com a ousadia de poder tornar explícito, sem papas na língua, estas formas de expressão.
O Malabarismo sem Maquiagem é composto por apenas um jornalista, Gilberto Bernardi Junior, caso alguém queira publicar algo neste espaço, tenha bondade, só enviar para o e-mail gibajornalismo@yahoo.com.br fotos, textos, opiniões, crônicas, artigos são bem vindos.
As intenções do blog, não é atingir ninguém ou elevar alguém, é apenas opinar, informar, detalhar. Textos particulares tomarão, sim, conta do espetáculo, assim como, os políticos tomam conta do nosso dinheiro. Talvez eu escreva dia sim, dia não. Talvez eu escreva dia não, outro não, outro sim. Não importa, o que vale é publicar quando a idéia vir a tona na cachola.
Música, cinema, política, economia, teatro, macumba, arte, entretenimento, ecologia tudo o que existir e que eu tenha base e senso crítico pra poder dar meu parecer, publicado aqui vai estar.
Como é mania de jornalista buscar a perfeição, eu não gostei do que acabo de escrever, porém, estou com pressa. É apenas a apresentação do blog, e a idéia não é fazer um belo texto, falando de malabarismo de circo ou da maquiagem de uma bela mulher, é apenas uma apresentação.
Os textos "exibidos" aqui, sempre serão assinados. Caso contrario tornar-se-ão excluidos antes de tornarem-se celebridades.

Com vocês, MALABARISMO sem MAQUIAGEM.