“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca num nível mais elevado do que o de qualquer político.” Charlie Chaplin

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Entre todos existe algo estranho...

Por: Gilberto Bernardi Jr.

...É como colocar o próprio homem num círculo vicioso cheio de coisa alguma. Vivemos engolindo os dias e bocejando as noites. As manhãs são reservadas e com um pouco de sol.


          Ficaremos acordados a noite toda, vamos encarar o sono de olhos abertos, teremos que senti-los. Vamos, ao menos, tentar colocar o nosso corpo em posição de ataque, para que a fantasia conheça o próprio sentimento. Ao darmos o primeiro bocejo será o primeiro sinal: precisamos de um copo de água.
          Calaremos a nossa madrugada bem no cantar dos pássaros. Sentir na pele o valor de uma noite, o valor da lua. Sentir toda escuridão da solidão e não fechar os olhos esta noite. Vamos brindar o labirinto da insanidade, bater de frente com o olhar puro de uma criança adulta. Escutar com os olhos arredados o som gritante das três primeiras horas do dia.
          Vamos encontrar uma maneira errante para esta noite dar certo. Planejar os movimentos e adormecer quando tudo estiver com um raio de sol. Precisamos do silencio para curar toda essa falta de você. É necessário o silencio para não pensar no próprio sono. Precisamos de água limpa.
          Quando o segundo bocejo chegar a boca, vamos levantar e caminhar pela sala, ficar atento aos passos. Jurar a si mesmo que existimos e precisamos de água. Vamos programar e passar a noite em claro, adormecer com o cantar dos pássaros e quando a noite estiver se posto, regressaremos.
          Hoje a janela se abre de vagar, sem o menor condicionamento físico. Sinta toda a fantasia dos sonhos. Seremos os guias com o terceiro bocejo. O sono só ataca sem água.
          O pulsar é o álibi. Brindar a noite como fosse à sétima. Sentiremos o planeta abaixo de nós. Decifrar os quadros 3D e não perder a cor. Tocar nos maiores sonhos, subir a escada da eternidade, degrau a degrau, para esbarrar no muro imundo dos céus.
          Subir no cume das energias e arrastar o diamante da mentira envolta naquilo que não se pretende explicar. Isso vai ser nessa noite inanimada. Estaremos com a alma em pé, acordados com filosofias póstumas, brindando com uma taça cheia de nada. Ao nosso lado, apenas ao nosso lado.
          É como escutar a mais alta das músicas num dia de chuva. É como sentir o corpo arrepiar quando sentimos o vento bater rente ao rosto; é como ser um escravo da fraqueza, que não é nada menos do que a ausência da coragem.
          Hoje é como escrever um monte de coisas e, ao ler, ver uma página em branco. Hoje, só hoje... Depois tudo passa...