“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca num nível mais elevado do que o de qualquer político.” Charlie Chaplin

sábado, 23 de maio de 2009

O Deus do nada. Um santo demasiadamente ateu perante a própria existência.

Por: Gilberto Bernardi Jr.

Uma santidade desconhecida tenta nos impor sua existência sem nunca termos o ouvido, enxergado ou tocado. Um líder pervertido e débil que nos obriga a seguir seus dogmas. Uma estória mal contada e misteriosa que nem o próprio Deus sabe explicar. O ser celestial pecador e errante. Um extremista imperador que escolhe o pior caminho para o povo que criou e diz ser a salvação.


          Onde está o tão poderoso Deus? Pouco importa quantos deles existem ou quantas religiões e seitas poderão ainda surgir para pregar o nome do senhor. Só entendo que venho perdendo o vínculo com esse tal Deus há um bom tempo. Pra começar eu nunca o senti e muito menos o enxerguei, apesar de acreditar nessa santidade.
          Acredito em Deus, mas não concordo com algumas decisões banais e sofredoras que o homem precisa passar para chegar até esse manipulador frustrado de mentes.
          Partindo do ponto de vista sobre o livre arbítrio, me coloco em posição única de sobrevivência para executar minha reação. Por exemplo, se relacionado ao mundo cruel onde vivemos, tenho a liberdade de ser um imbecil e poderei passar a perna em qualquer idiota que se atreva a cruzar meu caminho, certo? Não. Levando em consideração de que apenas os bons ficarão ao lado direito do pai todo poderoso, se você for uma má pessoa, não ficará ao lado de Deus e irá para não sei onde. Com isso, desfaz-se a lenda de que o livre arbítrio existe. Deus é um imperador malvado que ordena todos seguirem seus mandamentos, caso contrario, a guilhotina, mesmo tendo poucos anos de existência, será ainda mais útil.
          Se algum dia eu ficar de frente com o Deus, vou dizer em todas as línguas que ele é um fútil, retardado e imbecil. O pior ser que já existiu em todo o mundo. Na realidade, Deus é pior que o Diabo. Para se chegar, ou tentar chegar ao lado do criador é necessário passar por vários sofrimentos. Já, para se chegar ao inferno, o caminho é mais fácil. Ou seja, além de burro, por ter criado o lado mau da vida, Deus é a pior celebridade de todos os tempos: não pode ser tocado e nem visto. Alguém já conseguiu um simples autógrafo de Deus? Não. E ainda questionam Hitler – pelo menos ele tinha um objetivo cabível.
          Deus é a “coisa” mais contraditória de todos os tempos. Ele criou o homem e deixou Jesus, seu filho, ser morto pela própria invenção. Detalhe: a própria igreja, que prega o nome do senhor, matou o filho de Deus e, mesmo assim, o fundador do mundo não faz nada. Deus é a teoria do caos.
          O pai de todos foi tão e continua sendo inconseqüente que consegue despertar nos povos a vontade de contribuir com as guerras. Um motivador sanguinário e impiedoso. A confirmação de quanto Deus é um político de má fé com o homem é a guerra santa.
          Algumas crenças dizem que Deus é a natureza. A natureza nos encanta por sua força brutal; pela beleza incondicional em suas diferentes formas e, isso, é inquestionável. Entretanto, chega-se a conclusão, mais uma vez, que Deus está perdido no mundo e não sabe o rumo que deseja tomar, quem dirá perdoar as pessoas. Vejamos: se Deus é natureza e criador do homem, e o próprio sapiens que é o contribuinte direto na destruição de seu mundo (natureza que é = Deus), Deus, por sua vez, não nos perdoa e nos da o troco na mesma moeda, com enchentes, furacões, chuvas, aquecimento global... Ta, e onde está o perdão do paciente senhor de todos nós? Deus não é o caminho do perdão? Da salvação? Se Deus é natureza, então por que a revolta? O filho Jesus, nosso “irmão” ingênuo, deu o outro lado da face para levar um segundo tapa. Hoje, quem nos dá o tapa na cara é o pai de Jesus. Qualquer ser criado por Deus e com discernimento lógico, consegue entender – Deus é um objeto de zombaria.
          É normal encontrarmos quadros de Cristo de braços abertos, com os olhos tristes e uma cara fechada, com uma frase dizendo: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14, 5-6). Só me pergunto, baseado em que esse cara diz isso? Talvez esse Cristo tenha, no mínimo, perdido o bom senso ou a coroa de espinhos afetou o cérebro (se tratando de Deus pode ser célebro) causando amnésia. Como é que vamos seguir Jesus se ele morreu numa cruz por tentar passar os ensinamentos de um pai, que no pior momento da vida do filho, no caso a morte através de espancamentos, nada fez? Semioticamente, a imagem de Cristo nesses quadros não é nada agradável. Passa-nos uma mensagem de sofrimento, tristeza e angústia. Você quer ir até Deus? Se a resposta for sim, terá que passar por tudo o que Jesus passou, inclusive ser pregado numa cruz, ser coroado com espinhos, ser incansavelmente açoitado, apedrejado, demolido, escravizado, gozarão da tua cara e, ainda, quando você estiver pedindo clemência, um dos teus irmão (perante Deus somos, utopicamente, irmãos) vai te furar um pulmão com uma lança... E se você gritar – “Pai por que me abandonaste?”. Deus não vai te ouvir. Se não escutou o próprio Jesus, qual o motivo que o levaria a deixar de ser surdo, se a lei dele é de que somos todos iguais?
          Outro ponto intrigante é em relação à parte cientifica do selvagem ser de energia. Por que Deus não deixou nada cientificamente comprovado de sua existência? (a criação do mundo não é evidenciada que foi Deus, por existir teorias que também não se comprovam, assim, estão na mesma linha de desconfiança). Um filho que não conquistou o mundo não pode ser considerado comprovação de existência de Deus, devido à falta de “persuasão” de Cristo. Por que Deus não nos fez com uma idéia fixa de sua existência? Se fizesse isso, não aumentaria a idéia de ser um imperador com constantes crises de abuso de poder, muito pelo contrario, apenas evitaria discussões que inibem, por exemplo, o desenvolvimento na cura de doenças ou males, criados por ele mesmo, como é o caso da interferência direta do Cristianismo ao ser contra pesquisas com células tronco. O cristianismo é citado aqui, por ser a referencia de Deus e uma das maiores e conturbada entidade no mundo que vivemos - por mais porcas que sejam as igrejas e, mesmo pregando um ideal extremamente capitalista e nada humanista, foram criadas, assim como todas as desgraças do universo, por influência de Deus.
          Baseando-se na bíblia, cuja autoria deixa dúvidas, o filho do Senhor dizia estar seguindo as vontades do pai, mas, em momento algum, Cristo fala sobre a fisionomia do dono de tudo. Cristo foi um político demagogo, tanto que foi traído por seus seguidores. Pedro recusou, por medo, o nome do ideal por três vezes. Judas, que se arrependeu depois, se não o mais realista de todos os 12, o entregou para a morte. Tomé, o cético, até hoje tento entender por que seguia o mestre de carne e osso, se era tão incrédulo. Lembrando que Jesus, de acordo com a bíblia, reuniu os doze apóstolos e deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades. Até hoje, não se sabe se alguns desses charlatões curaram alguém. Mas, é comprovado que trouxeram através da pregação do evangelho e com a criação das igrejas, lutas e derramamento de sangue em nome do Senhor.
          Deus é um cara estranho. Não gosta de ouvir opiniões contrarias e, pelo jeito, odeia ser questionado quanto ao poder que possui. No Titanic, havia uma faixa escrita: “Nem Deus afunda esse navio”. Resumindo: aconteceu o maior naufrágio da história. Um candidato a presidência, esse brasileiro, disse em um discurso que se obtivesse 500 votos do próprio partido, nem Deus conseguiria fazer com que perdesse as eleições. O candidato ganhou, mas morreu um dia antes de tomar posse. O vocalista de uma banda de rock cantou “Não me impeça, vou seguir o caminho até o fim, na auto estrada para o inferno”. Em 1980 foi encontrado morto, asfixiado pelo próprio vômito. Comprova-se aqui que Deus sofre de uma personalidade bipolar. Em momentos de estima baixa é melhor apenas pensar que ele é o senhor dos senhores. O mais forte, a salvação o tudo. Caso contrario ele te tira a vida, sem piedade. "Não vos enganeis, de Deus não se zomba, pois tudo o que o homem semear isto também ceifará", diz a bíblia. Essa frase relata o quanto Deus é egocêntrico.
          Não sou contra Deus. Acredito na existência desse ser, mas não tenho fé. Deus deveria ser mais consciente e muito mais influente para que as coisas boas viessem a acontecer com mais freqüência. Deus é demasiadamente ativo em contribuir com que o ruim tome proporções mais elevadas que o bom. Pelo que ele nos passou até hoje, é que todo mundo tem direito a fazer o que bem entender, basta se arrepender depois, desde que o ser celestial não seja atacado direto ou indiretamente. Não tenho fé em Deus pela história ser tão misteriosa e não termos acesso a esse enigma. Como posso acreditar em algo que não vejo? Em algo que não sinto? Como posso me ajoelhar e rezar por alguém que faz do sofrimento alheio a própria diversão? Como posso ter fé num Deus que esconde a própria história? Que nunca se manifesta? Um Deus que nos impõe suas vontades sem querer saber se gostamos ou não. Um Deus, que algumas pessoas dizem ser o paraíso, que prefere ver o homem derrotado no meio da luta, para poder alcançá-lo. Que líder escolhe o pior caminho para o seu povo? Deus.
          O homem tem quer rever todos os dias os conceitos para conseguir se desvencilhar das estradas cambaleantes do criador. Por sua vez, Deus continua um conservador de uma idéia inicial – “a minha criação que me obedeça”. Caso nós criarmos novos caminhos, Deus se sentirá ofendido, e tirará algo de valioso de você. Deus é o próprio vento negro. Deus é um inseguro que usa do poder, de forma errada, para nos intimidar e nos obrigar a venerá-lo. Deus erra e ninguém o pune.
          Acredito em Deus, mas tenho fé apenas em mim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A brisa das onze

Por: Gilberto Bernardi Jr.


"Algo mágico acontecia naquele instante. Uma sensação, um sonho e um segredo que até hoje meu cérebro não consegue entender".

          A brisa das 11 horas entrava pela janela que ficava de frente para a rua. Ao chegar ao apartamento, no primeiro andar, número 102, eu esbarrava num momento que jamais iria esquecer. No rádio, um CD com músicas diversas tocava sempre a quarta – Um Girassol da cor do seu cabelo. O sofá, à esquerda, guardava o vazio dos anos seguintes. Uma colcha branca, comprada de um vendedor de rua, aqueles que vêm do nordeste, escondia os retalhos que o cachorro fizera na espuma há uns anos. As paredes brancas lembravam um hospital aconchegante. A TV, de 14 polegadas, era posicionada frente ao sofá, mas naquela época as ondas radiofônicas eram mais companheiras do qualquer imagem. A mesa de centro, de cor marrom, com cantos pontiagudos, além de se mostrar humilde, segurava na parte superior os destroços da festa da noite que acabara de amanhecer.
          E ali estava minha irmã e eu, num apartamento de dois quartos. Uma sala grande com poucos móveis; uma cozinha, uma lavanderia, um banheiro e por incrível que pareça, quatro janelas, por onde o vento corria livre entre os cômodos. Éramos dois das sete da manhã até as duas horas da tarde. No outro intervalo de tempo, o um mais um chegava a oito.
          O que mais chamava a atenção era a décima primeira badalada do dia, no abrir da janela central daquela caixa repartida. A sensação de estar lá, com a brisa ventando calma na primavera, deixava a mente numa situação inexplicável de bem estar. Isso faz falta hoje. Não da mais para sentir aquele vento liso no rosto. Fico me perguntado, cada vez que me deparo com uma janela, qual o motivo desse saudosismo? Mas cada vez que olho para um reflexo de vidro, mesmo que miúdo, ele me da à resposta.
          ...Quando a noite chegava, a imaginação de dias saudáveis aumentava no exato momento em que a porta era aberta. Um dos dedos, quando não era a palma da mão, apertava o interruptor da luz. Uma lâmpada de 60w se misturava com o que estava parado na sala, dando vida aos objetos que pairavam sem nada a falar por ali. Tudo mudava quando a cortina verde-escura era aberta.
          Em frente à janela principal havia um poste de luz. Todas as noites eram iguais: as luzes do apartamento eram desligadas, assim como os noticiários. O rádio tomava conta do silencio e ficava como trilha de fundo. O sofá batido nos acolhia como um abraço apertado. E ali deitávamos minha irmã e eu - janela aberta com uma brisa fresca junto à luz amarelada do poste da rua. As sombras das grades se estendiam até a parede branca, dando um ar, ao mesmo tempo, sinistro e pensante. Logo em seguida um comentário qualquer, num tom uma oitava acima do som do rádio, nos fazia gravar aquele instante que, hoje, me faz escrever isto: a lembrança de algo tão simples que dá vontade de pedir apenas mais um dia para morar com minha irmã e deitar naquele sofá, no mesmo apartamento, no mesmo tudo.
          Era diferente, explicável, porém indefinido. É como se quando fazíamos a rotina de abrir as janelas e sentir a brisa das onze horas, da noite ou da manhã, e ficar sendo embalado por aquele momento gigante, com música e luz amarela, virasse magia. O pensamento flutuava, nos colocava perto do mar. As fronteiras de tempo e espaço se perdiam em meio aquela multidão de silencio que se quebrava em meio as oitavas acima ou abaixo do normal. O instante de euforia era traçado pela bonança, assim como as ondas que escavacam com brutalidade a areia da orla e voltam afetuosas ao fundo do mar. Aquele momento era estonteante. Mas assim como os mortos, o tempo não se levanta, nem flutua, nem absolutamente nada.
          Aquela brisa se distinguia de todas as outras. A brisa das onze tinha ouvidos e, às vezes, até falava. Aquela brisa não tinha hora, bastava abrira a janela e lá estava ela, com um cardápio perfeito de emoções. Ao entrar sem pedir licença, a frágil brisa me levava embora desse mundo, mas a próxima rajada de vento me indicava que o norte a ser seguido seria cruel. Lembro que o momento em que ela me levava daqui, os poucos segundos que se viviam intensamente dentro da brisa, daria para trocar a eternidade por tal instante.
          Hoje os cartazes a procura de uma nova brisa são costurados entre as horas e, o achado são ventos contínuos sem muita expressão. O que consigo igualar com o velho tempo é a procissão da rotina do fechar da janela. Quando eu acordava no meio da madrugada, com a brisa embalando meu sono em tom de despedida, levantava do sofá, sentava-me nele, com os pés descalços no piso gelado de lajotas brancas, sonolento caminhava vagarosamente com destino a luz do poste da rua, esbarrava nas grades da janela imensa e me dava conta que o dia ainda estava aí. Com a mão esquerda apoiada na parede, jogava o peso do corpo nesse braço. A mão direita agarrava um parte de janela, com um leve esforço ela ia se fechando e minha cabeça começava a entender que a brisa só voltaria no dia seguinte, às onze horas. Com tudo fechado, um bocejo saia pela minha boca, meu corpo voltava a posição rígida, meu olhos olhavam por alguns segundos entre a janela - e a brisa seguia seu rumo incerto. As pernas, sincronizadas, tomavam o caminho do quarto. Ao deitar o sonho voltava a si e eu apenas esperava pelo outro dia. Esperava pela brisa.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Entre todos existe algo estranho...

Por: Gilberto Bernardi Jr.

...É como colocar o próprio homem num círculo vicioso cheio de coisa alguma. Vivemos engolindo os dias e bocejando as noites. As manhãs são reservadas e com um pouco de sol.


          Ficaremos acordados a noite toda, vamos encarar o sono de olhos abertos, teremos que senti-los. Vamos, ao menos, tentar colocar o nosso corpo em posição de ataque, para que a fantasia conheça o próprio sentimento. Ao darmos o primeiro bocejo será o primeiro sinal: precisamos de um copo de água.
          Calaremos a nossa madrugada bem no cantar dos pássaros. Sentir na pele o valor de uma noite, o valor da lua. Sentir toda escuridão da solidão e não fechar os olhos esta noite. Vamos brindar o labirinto da insanidade, bater de frente com o olhar puro de uma criança adulta. Escutar com os olhos arredados o som gritante das três primeiras horas do dia.
          Vamos encontrar uma maneira errante para esta noite dar certo. Planejar os movimentos e adormecer quando tudo estiver com um raio de sol. Precisamos do silencio para curar toda essa falta de você. É necessário o silencio para não pensar no próprio sono. Precisamos de água limpa.
          Quando o segundo bocejo chegar a boca, vamos levantar e caminhar pela sala, ficar atento aos passos. Jurar a si mesmo que existimos e precisamos de água. Vamos programar e passar a noite em claro, adormecer com o cantar dos pássaros e quando a noite estiver se posto, regressaremos.
          Hoje a janela se abre de vagar, sem o menor condicionamento físico. Sinta toda a fantasia dos sonhos. Seremos os guias com o terceiro bocejo. O sono só ataca sem água.
          O pulsar é o álibi. Brindar a noite como fosse à sétima. Sentiremos o planeta abaixo de nós. Decifrar os quadros 3D e não perder a cor. Tocar nos maiores sonhos, subir a escada da eternidade, degrau a degrau, para esbarrar no muro imundo dos céus.
          Subir no cume das energias e arrastar o diamante da mentira envolta naquilo que não se pretende explicar. Isso vai ser nessa noite inanimada. Estaremos com a alma em pé, acordados com filosofias póstumas, brindando com uma taça cheia de nada. Ao nosso lado, apenas ao nosso lado.
          É como escutar a mais alta das músicas num dia de chuva. É como sentir o corpo arrepiar quando sentimos o vento bater rente ao rosto; é como ser um escravo da fraqueza, que não é nada menos do que a ausência da coragem.
          Hoje é como escrever um monte de coisas e, ao ler, ver uma página em branco. Hoje, só hoje... Depois tudo passa...