“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca num nível mais elevado do que o de qualquer político.” Charlie Chaplin

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Anacronismo de um povo sem memória

Por: Gilberto Bernardi Junior


“Quero deixar as lagrimas de meus olhos escorrerem pelo meu rosto. Quando elas tocarem os meus lábios, a minha língua irá sentir o gosto amargo dos cordéis desta dança”.


          Decupar a nossa história. Não mudar. Esquecer os arredores. Acordar depois que o dia amanheça e se deitar antes que o sol se ofusque. Prisão. Calçar o inexistente e tropeçar nas calçadas esquizofrênicas da avenida ou paralelas. Andar. Parar em cada ponto cultural, desaconselhar o antigamente e não querer o globalizado. Ter um perfil quadrúpede, bisonho. Correr com destino à eternidade, mas deixar o vento marcar nosso semblante campinense com linhas profundas de cor preto e branco.
          A quadragésima oitava vela incendeia e, com a cera, derrete também a esperança. Os que glorificam hoje choram amanhã. Precisa-se de mais ceticismo e lógica. Discursos prontos e entusiasmo zero vão estar no altar da pátria nessa data sem prestígio. Então vamos deixar os adolescentes de lado mais uma vez e puxar quarenta e oito vezes a orelha dos motoristas desse complexo demográfico, formado no início do século XX. Mas dirigir embriagado, perante a lei, é crime.
          "Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca em nível mais alto do que o de qualquer político”. Encenava Charles Chaplin. Eu quero ser um palhaço, fazer malabarismo, pintar meu nariz de vermelho, rir da boca pra fora e sentir meu coração campinense sangrar por ver novamente gente nova ser trocada, inalada e tachada de paralítica. Em Campinas do Sul santo de casa não faz milagre, só quando cospe no prato. Frágil fica o ego de cada profissional em formação, quando literalmente é deixada de lado, para dar lugar à desprezível politicagem. Isso dá arrepio, dá nojo, provoca cócegas. Nem parece que fazemos aniversário. 48 anos, viva!
          Ergam-se as lonas da esculhambação, que os rios já tomaram conta da cidade. O lodo emergiu e trouxe consigo toda a imundície subterrânea do riacho que atravessa a comuna. Depositam ali, nesse risco de água, graxa, gasolina e fezes. Não dá para esquecer dá celebre frase dita há uns meses atrás por um “cortês” daqui: “Eu tenho Campinas na palma da minha mão”. Sinta o cheiro da tirania no ar, e tente respirar para não dar desgosto a alma. Estamos de aniversário. Essa tonelada de prepotência, exercida por alguns membros do poder público, parece arder na pele do povo. Vota campinense, que em quase meio século te jogaram longe, te mandaram embora, não valorizaram o teu suor, não te deram valor algum, mas te pisaram no pescoço. Cante com os teus filhos, parabéns a você, menininha quarentona.
          Os teus olhos se fecham e não acreditam na prostituição. Veja as madrugadas, Campinas. As tuas filhas sendo profissionais do sexo por não terem opção de emprego. Não chore quarentona, isso é a realidade sendo jogada em sua retina. Nestes anos de vida, teus patrões abandonaram teus pais, filhos e filhas. Agora cidadezinha, agüenta, fostes tu que escreveste teu destino de tal forma e sem conteúdo. Carregue nas tuas costas a dor do abandono sentida todas as manhãs pelos teus adolescentes que ainda te fazem sorrir com dentes podres.
          E me expliquem, senhores dominantes, responsáveis por esse intenso abatimento progressivo: onde estão os empregos? E qual o motivo que leva tantas pessoas a não voltarem a aplaudir, e pisar em chão enviesado desse solo? 48 é superstição.
          As arquibancadas não estão prontas, a grama não está verde, a pista de atletismo é apenas poeira, o arco de traves já está enferrujado e a bola... A bola não existe! É assim que se encontra o estádio, com as obras estreantes na década de 90. E mais uma vez a pergunta: por que desistir do investimento na metade? Hoje, aquele espaço inutilizado pelo Estado é de serventia para usuários de drogas; para as profissionais do sexo ganharem seu sustento; para a geração saúde, em algumas tardes, caminhar em círculos na pista atlética. A poeira que se levanta faz o olho lacrimejar. Palmas incessantes para o nosso campinho de várzea. Agora vamos levantar em pé e com orgulho dar uma salva de palmas bem forte para o magnífico que teve a brilhante idéia de não dar continuidade ao projeto do estádio municipal.
          Estamos celebrando o que realmente? Um ano a mais de experiência? Se tivermos como experiência essa procissão de sombras durante todo esse tempo, imagina o que nos espera daqui uns anos. Ressuscitem os mortos, que os marinheiros estão abandonando o navio. Campinas é tarada em mandar seus queridos para um lugar longínquo.
          Criam-se ídolos boçais, conseqüentemente, a retribuição vem em forma de humilhação comunitária. Campinas conjuga o verbo fazer, de forma egocêntrica: em vez de conjugar na primeira pessoa do plural, NÓS fizemos, conjuga na primeira do singular, EU fiz. Um aniversário de quase cinqüenta velas, com quase sem jovens, sem empregos, com quase sem nada. Sem ritmo, sem poesia e sem cultura. E a burguesia sórdida sedenta de lucros. Lindinha Campinas fizeram do teu aniversário uma farsa. Você dançou 48 vezes, menininha quarentona.

4 comentários:

Anônimo disse...

isso ai pia mete o pau hauauaau, kapz o texto ta bem massa :D ainda bem q vao reforma akele campo neh por q se n taloko... vlw flws

Natasha Tomm disse...

bom. uma vez se acreditava que as pessoas eram inocentes até prova contrária.
uma vez criou-se "bolsas" pra tudo o que era necessário e mais. daí apareceu uma maldadezinha aqui, uma sujeirinha ali. e então descobriram que existem dois tipos de políticos: os corruptos e os corruptíveis.
todos têm seu preço. e se não for um preço em dinheiro ou o que for, será um preço um tanto alto como a morte, própria ou de familiares.
era uma vez um mundo onde o governante exigia o mínimo necessário de impostos e usava esse dinheiro justamente para o povo, esse governante nada mais era do que a pessoa que juntava todo o dinheiro e o aplicava sabiamente em benefícios para o povo, de forma justa.
mas descobriu-se que ninguém sabe muito bem o que é justo.
e as pessoas acordaram e viram que tudo não passava de um sonho.
mas até hoje, essas pessoas continuam conformadas.
fazer o quê. é a natureza humana.
ou elas são conformadas ou elas não existem.

(forte opinião a sua, tu é dos meus. ótimo blog.)

Anônimo disse...

Nossa Giuzinhoo muito bom... grande jornalista!!!

Amo-te astronauta de mármore....

Fer Schena

nate disse...

.

até que enfim um blógue, seu giu, pra extravar-se, corromper-se, escrever enfim.


adorei!

[lembra dos coletivos, lembra?]